sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

[ Gabriel Pacheco]

ou que um soco na minha cara
me faça menos osso
e mais verdade

Hilda Hilst

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Futuro do pretérito (devaneios tortos)

Se tivesse se demorado mais um pouco nos fundos, era assim que pensava pra amenizar o desencontro, mesmo tendo existido um encontro antes e depois dos fundos. Antes com a distância e também de certa forma junção de melodias, depois com tamanha embriaguez que pensa não ter dito nada que preste, e no TIVESSE poderia ser bonito, ele estava tão lúcido e dentro de si, ela tão fora e tão dentro, ia de um ponto ao outro em minutos, mas como aquelas coisas inacabadas,
ela foi, ele vinha, e assim um quase nada.
Mas agora realmente no SE TIVESSE, agora em seus sonhos: ela podia ter se demorado mais nos fundos, pegado uma bebida e sentado, olhando aqueles postes desenhados na parede, enquanto isso ele viria, pediria uma bebida e conversaria um pouco com a moça do balcão, mas pensando se iria até a menina com uma flor entrelaçada nos fios do cabelo e de um falso olhar perdido, vago, ele então iria até ela, primeiro olharia o que a menina olhava, faria algum comentário(ou nenhum), ela o convidaria a sentar, ele olharia pra trás e sim, sentaria, iriam conversar sobre qualquer coisa pra prolongar aquele momento que estavam vivendo, pois haveria um brilho, embora fingissem não enxergar e tentassem guardá-lo num pote, mesmo sabendo que não havia pote algum.

Essa é a imagem que ela guarda desse TIVESSE: eram dois, um menino lúcido e uma menina com uma flor vermelha nos cachos, vivendo, sentados nos fundos de um bar, rindo, levemente agudos...









'nunca mais viveu o que sonhou'

sábado, 19 de dezembro de 2009

Samambaias, um conto verde

Serei sincera, não sei como começar esse conto, pois ele não possui um verdadeiro começo nem nada dessas coisas que dão uma desenvoltura, que alimentam. Vou falar de uma menina, com seus olhos barulhentos, sua saia de veludo e sete passos.


Então como quem não sabe começar, vou caminhando entre pedras, e no sangue que vai escorrendo entre os dedos tento absorver alguma linha, idéia, desenho formado de pedra e sangue, não, não, essa história não tem nada a ver com o que você está pensando, não que você pense em algo e que eu saiba o que se passa por sua cabecinha, talvez miúda com cabelos chapados, talvez volumosa de cabelos exagerados, tanto faz. Onde estão meus modos, deixe eu lhe apresentar nossa protagonista(se você leu o livro em que tirei isso terá certeza agora que estou desesperada por um começo, o que me faz plagiar, mas continuemos) se chama, não, não importa o nome, importa que vivia ali entre fios que tecia, malabarista, outras vezes palhaça do seu destino, acreditava um pouco.
Então ela entrou naquele bazar, talvez pelas cores fortes e calorosas que tinha, talvez pelo cheiro de incenso que se espalhava por metros, talvez pra disfarçar o mofo, se a perguntasse agora que cheiro tinha não saberia ao certo dizer, algo entre lavanda e orquídeas, mas entrou, e logo quando movimentou as pernas, sete passos, viu ele, primeiro os olhos se contemplaram por instantes, desviou, ele não, depois a vontade de olhar de novo não sabendo bem disfarçar, mesmo assim ousou, o que não fazia a tanto tempo, não que fosse tamanha a ousadia, mas calma, vamos por partes, então ousou e olhou novamente, ele permaneceu inalterado tinha um ar de quem se divertia com a situação, ela corou.
O segundo encontro, pois precisava haver uma continuação depois de tamanha perplexidade do primeiro, foi em ruas, avenidas, praças, não sei se pode se chamar de encontro, tão rápido e calado. Ela estava no carro com os pais, eram algo entre oito e oito e seis da noite, iriam jantar, ainda não sabiam se na pizzaria ou quem sabe em algum restaurante japonês, chinês, nunca sabia diferenciar, o sinal fechou, batia uma chuva fina e ela observava aquela dança pela janela, foi quando viu ele sentado dentro de uma cafeteria com um livro nas mãos, quis pensar que lia Caio F. e pensou, achou estranho o fato dele ali aquelas horas, mas o sinal abriu e foi.
O terceiro, sim en-con-tro, foi numa sexta feira cinza sem chuva ainda, ela passeava, andava assim à toa, olhando vitrines, objetos que a olhavam de volta sem dizer nada, nem expressar. Ele comprava um livro numa sebo próxima de onde andava a menina, depois saiu e ascendeu um cigarro lento e longo, e entre um tragar e outro a viu, vestia uma saia de veludo num azul sutil, toda tão dentro de si mesma que ele quase entrou por janelas, nem parecia mais aquela menina corada do bazar onde havia comprado a saia que ele na hora achou de mau gosto, mas agora via que lhe caia perfeita, ela distraída, num mundo seu, tão confiante, e cheia, e torta, ele gostou de vê-la tão livre, e passou minutos até que ela percebesse que era observada, olhou pra ele com seus olhos vibrantes, dessa vez não corou, sorriu, não muito largo pra não assustar, e ele se sentindo meio ladrão do mundo que a absorvia segundos atrás, percebeu rápido que aquilo era tudo que podiam se oferecer, olhares que pedem tanto, que falam, exclamam, pensou, a magia, e por isso, por perceber tanto assim, tragou mais uma vez seu cigarro que agora já não era tão lento, ofegava na língua, deu sete passos até ela, lhe entregou o livro, que afinal não era Caio F. a menina o apertou entre os seios(o livro, não o rapaz) chegou a abrir a boca, mas também percebeu que algumas gavetas devem permanecer fechadas, não janelas. E continuaram os dois em seus gingados frouxos, cada um pra um lado.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

E a menina repetia: que não passe, que não passe, que não passe...
Mesmo já sendo visto um pequeno vazio,
ela tentava guardar algum resto bem no fundo,
num frasco, feito amuleto
pra não se perder, pra não se perder, pra não te perder
E cruzava os dedos

sábado, 5 de dezembro de 2009

É tempo de meio silêncio,
De boca gelada e suspiro,
De palavra indireta, aviso na esquina.
Tempo de cinco sentidos num só.

Drummond

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Eu não saberia explicar se me perguntasse o que me engole, o que me dói? Sei que não falaríamos disso, afinal não falamos de mais nada, só daquela parede branca descascando, sempre meio desesperados, tentando achar outra cor, alguma de nome bonito.
Ontem assisti aquele filme que tentamos ver juntos. Pensei na coragem de esquecer, de abandonar. É, também penso que ela me falte, sim, a você também, sim, demasiados covardes invadidos por sonhos tênues.
Ando lendo sobre astrologia. Percebi entre xícaras e/ou canecas de café que sagitário é o inferno astral de capricórnio, caiu bem, ainda mais após aquele poema invisível, (eu) te invadindo, te bagunçando, qual foram mesmo as palavras? Algo entre angústia e inconstância.
É, penso que não passo confiança, nem seriedade, não sou terra firme, talvez seja o fogo(elemento), esse que queima e renova. Fico às vezes criando desculpas por mim, por você, acho que deveria ser mais firme, menos impulsiva, talvez assim você pudesse arriscar com certas garantias, o que me soa bem contraditório, mas são apenas inventos, passíveis ou não de terem sentido.
Concordo que há um masoquismo obsceno, é o meu modo de sentir, talvez tenha desaprendido. Sentir "qualquer coisa intensa como um grito".

terça-feira, 24 de novembro de 2009

pitadas de Caio F.




Se o outro for bom para você. Se te der vontade de viver. Se o cheiro do suor do outro também for bom. Se todos os cheiros do corpo do outro forem bons. O pé, no fim do dia. A boca, de manhã cedo. Bons, normais, comuns. Coisa de gente. Cheiros íntimos, secretos. Ninguém mais saberia deles se não enfiasse o nariz lá dentro, a língua dentro, bem dentro, no fundo das carnes, no meio dos cheiros. E se tudo isso que você acha nojento for exatamente o que chamam de amor? Quando você chega no mais íntimo. No tão íntimo, mas tão íntimo que de repente a palavra nojo não tem mais sentido. Você também tem cheiros. As pessoas têm cheiros, é natural. Os animais cheiram uns aos outros. No rabo. (…) Se tudo isso, se tocar no outro, se não só tolerar e aceitar a merda do outro, mas não dar importância a ela ou até gostar, porque de repente você pode até gostar, sem que isso seja necessariamente uma perversão, se tudo isso for o que chamam de amor. Amor no sentido de intimidade, de conhecimento muito, muito fundo. Da pobreza e também da nobreza do corpo do outro. Do teu próprio corpo que é igual, talvez tragicamente igual. O amor só acontece quando uma pessoa aceita que também é bicho. Se amor for a coragem de ser bicho. Se amor for a coragem da própria merda.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Desafinado dom de se iludir ou desamores aleatórios

Fui brincar de fazer de você uma extensão de mim. Comecei usando fios tão finos, frágeis, mas coloquei tantos, não consigo me lembrar quando...




Transformei aquilo tudo, em tudo aquilo, em água viva. De repente era parte da chama, que brilhava num tom alaranjado que me lembravam seus cabelos menina. Logo se esgotava. Os momentos claros pareciam dissolver tudo, mas eu me apegava com tamanha fidelidade aos obscuros que me restava ascender um cigarro e tragar, ou nem isso, pedindo para que se demorasse a acabar.

Quando olho pra algum fio arrebentado, outro partido, vejo que criei tanto e como, inventei ruas, avenidas, praças, sons, dizeres que falavam em outros tons, silêncio, silêncio, que enfim me incomodavam por tanto tagalerarem.


Quem poderia imaginar que no fim o vento, seria você ( )



"desligo você
nus, deslizamos
pra que te esquecer
se o amor é tanto?
existo em você
por louco engano"
"Eu já nem sei se eu tô misturando
Eu perco o sono
Lembrando em cada riso teu
Qualquer bandeira
Fechando e abrindo a geladeira
A noite inteira"

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O meu pão sempre cai com a manteiga pra baixo ou o silêncio de um ruído


É engraçado como Deus(sempre enfiando ele no meio) pode ser uma pessoinha irônica, é só você mandar um "Sabe, tá tudo começando a dar certo" pra ele te mostrar que não é assim, e não adianta ficar puto, ele escorre isso sobre margens que você não consegue alcançar, e o jeito é catar aquilo tudo e olhar nos olhos, se for pra se sentir triste, sentir em cada pedacinho do corpo, por inteiro. Vai vire cinzas, pra poder se renovar (acho que Nietzsche disse algo assim).

Então me quebro, me desfaço, o ponto que iluminava se apagou de uma vez, enquanto eu pisava em campos vastos e sim, pareciam brandos, agora tudo o que sinto é o cheiro da flor se esvaziando e até agradeço por não enxergar nada.

Murmuro desculpas pra mim mesma, e é claro tento me acabar de vez e cortar a fitinha do Bonfim.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009



Ando nas mesmas ruas, com os mesmos passos. É, talvez mais miúdos, mais pesados, mais embriagados, mais lentos.
Ando com as mesmas meias, aquelas coloridas que se desfaziam num tom azul que se distribuía com toda subtileza.
Nem parece que ando somente a três horas, parecem tantos dias, tantos calos, que você não entenderia.
Ando armada de fantasias, viro o mundo, passo a onda, flutuo sobre mim.
Canto em decassílabos, escrevo em tons agudos, escorre sobre a lama.
E parece que sempre foi assim, e isso me escapa, transfigura. E permaneço.

café, cigarros e uma pitada de blues

Nunca gostei de café muito amargo, ele parecia me cansar mais, o líquido acabava o gosto continuava permanente. Aquele gosto de depois queimando a língua.


Nunca gostei de pessoas muito amargas, elas me transbordam, me gastam, deixam aquele gosto mordaz, aquela falta de simplicidade, meus olhos quase se fecham.

Meu café sempre foi meio chafé e você pode imaginar como.

Meus cigarros sempre foram picados, comprar um maço define por demais.

Meu blues, esse muda constantemente, sinto com ele, me respaldo, me crio. Minha depressão sempre foi crônica e a minha esperança tem tons acinzentados, esperando pelo próximo chafé, a próxima tragada, a próxima paixão. E os olhares cansei de sustentar.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Ando muito completo de vazios.
Meu órgão de morrer me predomina.
Estou sem eternidades.
Não posso mais saber quando amanheço ontem.
Está rengo de mim o amanhecer.
Ouço o tamanho oblíquo de uma folha.
Atrás do ocaso fervem os insetos.
Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu destino.
Essas coisas me mudam para cisco.
A minha independência tem algemas.
(...)

Nuvens me cruzam de arribação.
Tenho uma dor de concha extraviada.
Uma dor de pedaços que não voltam.
Eu sou muitas pessoas destroçadas.
(...)

(ele) é quase árvore.
Silêncio dele é tão alto que os passarinhos ouvem de longe
E vêm pousar em seu ombro.
Seu olho renova as tardes.
(...)

(... consegue esticar o horizonte usando 3 fios de teias de aranha. A coisa fica bem esticada.)... desregula a natureza: Seu olho aumenta o poente.
(Pode um homem enriquecer a natureza com a sua incompletude?).
(...)

Estou atravessando um período de árvore.

Manoel de Barros

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

não me mandem flores

é óbvio que ele procurava um amor, mas eu nunca serei um pra ninguém. sabe eu me canso, não sei nem bem do que, eu estou cansada antes mesmo de começar algo, tipo fico aqui pensando como vai ser e vou achando tão rotina, tão chacina.
pra complicar eu sempre busquei, pelo menos penso assim, um grande amor, e sempre to fugindo dele, me autosabotando, estranhamente eu deslizo sobre mim. enquanto eu escrevo meu coração vai ficando apertado. é, de novo estou passando por isso, pensando estar apaixonada, ou criando uma só pra me sentir mais viva, ai fico medindo maneiras de agir, entro em um jogo doloroso. meu problema sempre foi pensar demais, ou de menos, é passado e futuro, nunca, nunca presente, e eu me canso e me aborto, a torto e a direito.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Era tudo o que eu tinha
Mentira
Ele não era tudo o que eu tinha
Talvez fosse tudo o que eu não tinha



E antes, e depois, e entre
Dentro, fora
Despedaçados e com laços
A melodia chegando e calando nossas vozes
A saliva secando
A poesia vadiando
Debaixo da laranjeira, a menina adormecia
A mão coçava compulsivamente a face
Que havia sido picada por algum inseto
Tinha a bochecha vermelha e transpirava bastante
O sol lhe batendo na pele
Parecia ter sabor de canela
Talvez, por sentir isso, ela despertou
Entre o sonho e o desencanto
Coçou os olhos e saiu andando
Como se tivesse destino
E foi pra dentro, pra antes, entre e depois
Enfim fora

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Os meus versos escassos
Sem sangue, sem comunhão

Nem pão


O meu amor esgotado
Sem crença, sem paixão
Nem perdão
A minha palavra murmurada
Sem eco, sem razão
Nem padrão
O meu suor desbotado
Desmanchado, apagado
Que toma a palavra em vão
Sem sabor, sem intenção
Nem emoção

domingo, 26 de julho de 2009

pour moi, pas nécessaire

traguei-me, o cigarro também, naquele instante infinito no que era dele, pensei, o que mais poderia fazer, pensar não me escapa, por mais que eu queira. No meu devaneio veio você


me visitar, nem nas portas soube bater, entrou direto, com passo firme como se contasse alguma história que niguém podia ouvir, olhei bem pra você, fotografei cada expressão como se fosse única, e soltei com toda leveza, você continuou, não desprendeu, tentei e tentei deixar você levitar com a fumaça, mas você não me abandona, não me deixa, (eu), sei que pensar em você, é deixar pra depois, pois o agora, a hora, não nos pertence mais, calma, não se inquiete, não saberia explicar, mas de sentir sei muito, e nosso tempo chegará. Depois o que fizermos dele, eu não ligo, pois meu cigarro já acabara, mesmo antes de eu lhe tocar.

sábado, 25 de julho de 2009

felicitações ao mestre

sei que o tópico que me absorve nesse mundo insano, trata-se de algo que não rejeito nem por um segundo, um instante se quer, sei que o que me atrai é tudo aquilo que me trai,


que me deixa só completamente, e assim amiúde ei de profanar toda minha alegria de ser, agonia também, pois ser não é fácil. Mas deixemos o ser de lado e pensemos no você, sim em você, que eu bem quero, que eu mal quero, que eu não quero, querendo tanto, que me agoniza, me profana, me goza na cara, todo o seu líquido sórdido, impuro, mórbido, cheio de prazer, me cospe ele na cara, ou no fruto bendito, seja onde for, é dele que posso rir, ele que me deixa contente, pois o poder que detenho sobre ele é inabalável, ele me pertence, até a última gota, vai até o meu ventre, levar o que não nascerá, eu o sinto como chama, te desejo dentro de mim, mas também posso te desejar fora, porque tua não sou, nunca serei, pois me empalidece pensar que seremos um só, ou que possamos tentar ser. Se te desejo, todos os instantes, todos os momentos de súbito gozo, de pura imaginação, és em mim tudo que eu sempre quis ter, desejo estranho, sinto lhe dizer que seja talvez quando estivermos nós dois num quarto, pintado de silêncio, moldado em fervor, mesmo ali, meu desejo deve se esvaziar, se liquidar, pois desejo o indesejável, o intocável, o amante eterno, a paixão platónica, se te quero, quero muito, treino meu ridículo e censurado teatro, treino meus pontos, todos eles, que quando são descobertos soltam exclamações, te quero bem, bem longe, pra poder a cada dia sonhar contigo, e quando pudermos nos encontrarmos, no momento que estivermos preparados para nos desgastarmos, virarmos pó, te convidarei a cheirá-lo, e quem sabe poderemos viajar por águas mais brandas. Lembre, me levaras contigo, essa promessa nunca esquecerei, sou tua até o instante que a gota de orvalho será banhada pelo sol, até ela evaporar, sou tua neste instante, pra sempre nele, me toma, possui enquanto pode, pois num outro momento você pode ser meu, e quem sabe o sol deixe de brilhar e
eu possa te ter pra sempre, talvez o sol esqueça de brilhar, mas o pó um dia irá se acabar e tomara, tomara que acabe, eu sei que você também quer assim, quem desejaria a eternidade, se já a tem.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

de nada em nada, nada permaneço

acordei meio vermelha hoje, machucada por todos os lados, braços arranhados, cabelo embaraçado, olhos envergonhados, e um pedaço roubado, havia um vazio em mim, que me tomou pela manhã inteira e parte da tarde, com ele veio o desespero, não sabia onde havia deixado o que lhe preenchia.

mas por favor, me esgotei de definições, elas me cansam, não quero saber o que eu sinto, o que você sente, o que nos une, pouco importa, um dia fico sabendo, não tenho pressa, não tenha. ah sim, o vazio, ainda permanece, mas ele me pertence, ele é o meu vazio, só meu, mas ainda não quero defini-lo, vou deixar pra mais tarde, pra depois das xícaras de chá, ou do café com leite, penso nele depois, no momento só quero saber se minhas meias secaram... e que cor faz agora, que cores são?

segunda-feira, 6 de julho de 2009



"Em luta, meu ser se parte em dois. Um que foge, outro que aceita. O que aceita diz: não. Eu não quero pensar no que virá: quero pensar no que é. Agora. No que está sendo. Pensar no que ainda não veio é fugir, buscar apoio em coisas externas a mim, de cuja consistência não posso duvidar porque não a conheço. Pensar no que está sendo, ou antes, não, não pensar, mas enfrentar e penetrar no que está sendo é coragem. Pensar é ainda fuga: aprender subjetivamente a realidade de maneira a não assustar. Entrar nela significa viver."



Caio Fernando Abreu

quarta-feira, 24 de junho de 2009


Quando eu me vi,
sem mais pisar,
pensei estar voando,
mas estava saltando.
Sim saltando do penhasco
do meu interior
para dentro do teu
Restou algo bom?
Depois que nos seguramos,
nos abraçamos, nos secamos,
nos amamos, nos matamos
Sim, restou.
Sobrou o gosto amargo,
o sublime
Restou a poesia
que vadia dentro de mim
Restou você pequeno
um eu grande
o tom mais baixo
o mar raso
e toda profundeza de ser,
sim de ser

Eu sempre desejei esbarrar com outro eu, só pra poder compartilhar toda minha estranheza, poder espalhar toda a minha loucura e tentar entende-la, ouvir meu riso em outro tom...
E de repente conheço você, que não é eu, é mais que eu, é menos, é nada. Ah, que vontade de me fundir a você, de me conhecer mais, de lhe conhecer tanto... Pode ser um desejo egoísta, mas seremos duas partes que se desgastam, até restar só pó, mas quem disse que não poderemos cheirá-lo?

domingo, 31 de maio de 2009


Eu pensei que era
Eu pensei que era você
Não, não
Eu pensei que...
Ah deixa pra lá o que eu pensei
E encanta comigo!

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Pouco importa
A cor da bandeira

A fala dos chatos,
O cheiro do ralo,
A renúncia dos fracassados,
A agonia dos covardes,
A vingança dos traídos,
A ardência dos desejos,

A caridade que não mata,

A dor que não apaga,
A cinza que não renova,
O sofrimento que não fortalece

O que eu quero
É incessante
É intrigante
O que me importa
É a fome

terça-feira, 21 de abril de 2009

ah! este fogo,
esta luz que me atormenta
ah! esse vazio que me destrói
essa escuridão que me cega
essa corrente que me destrata
ah! esse vazio que me destrói
quero deixar essa luz, ausente de dono
quero deixá-la
ah! eu desejo,
o que somente os ignorantes podem ter
ah! eu desejo,
o que falta aos sábios
ah! eu desejo,
um pouco de paz
eu quero poder fechar meus olhos
calar as vozes
sucumbir ao que me parece amarras
deixá-las me possuir
e não senti-las mais
porque feliz, aquele que não as percebem
não quero mais o gosto amargo na língua
nem tentar cicatrizar as feridas
o que eu quero?
uma anestesia
um entorpecente
ah! esse meu desejo insano
e covarde
quero poder tê-lo em meus braços
acariciá-lo
apreciá-lo
eu quero cessar esse fogo
cessar a audição,
deste eu que não aguenta mais ouvir os gritos de agonia
dos que desejam a liberdade
sem saber o que procuram
e sabem que tal não existe absoluta
quero abandonar este fogo maldito
este fogo que não queima
este fogo esquisito
sem chamas
ah, o que eu desejo,
é a ignorância.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Na iminência de ser, não foi.

Parecia frágil e acanhada. Por vezes cometia infortúnios cômicos. Tinha o ar de quem simplesmente não está se importando, mas captava o equivalente qualitativo da respiração.
Religião preferia crer em todas, ou talvez em nenhuma. Ruia unhas e torcia os lábios. Um dia subia de improviso no palco, em outros não desgrudava do antigo repertório. Decorava frases de autores complexos, ia fantasiada a padaria, evitava beber de barriga vazia. Porém, em uma noite em que tudo parecia decorrer de forma normal, caiu da escadaria, rolou do primeiro ao último degrau, feito bola, e nenhum som mais soou.

sábado, 21 de março de 2009

"a torneira seca
(mas pior: a falta
de sede)
a luz apagada
(mas pior: o gosto
do escuro)
a porta fechada
(mas pior: a chave
por dentro)"

José Paulo Paes

quarta-feira, 4 de março de 2009

E na hora de dormir, ela sentia um medo sabendo que sempre depois da noite o mundo dos sonhos lhe escaparia entre os fios macios e ondulados do cabelo.
Às vezes era preciso que ela criasse o seu próprio mundo, no qual tudo era pensável e nada lhe traria consequências. Era um lugar que pelo menos em parte ela conseguia controlar e torná-lo mais seu.

domingo, 1 de março de 2009

As pessoas sempre e sempre te surpreendendo. Todos agora somos máquinas,
CONTRALADOS por impulsos, é impulsos e juramos que isso é cool.
Ah, o ser livre, liberdade, liberdade, eu sou livre, você é?
Sou livre porque sou homem máquina(paradoxo!), sou livre, sou demasiado humano, é humano.
Sim, eu não ligo para o que vão pensar ou sentir, eu sou livre,
sim, eu não ligo se me entendem, se faço dos outros chacota, é liberdade
Impulsos, impulsos, quem pode me julgar? me punir?
Não faço nada de errado, eu só não ligo
Sou ser egoísta
Se firo
Se iludo
Tudo faz parte do preço que os OUTROS pagam por eu confundir liberdade
Com falta de bom senso
Ah mas o que me importa, não é?!
Como eu disse
"Eu sou ista,
Eu sou ego
Eu sou ista,
Eu sou ego
Eu sou egoísta
Por que não..."

sábado, 28 de fevereiro de 2009

eu e meus textos enormes

Mais uma vez a entrega, a vontade de lutar, termina em lágrimas desta vez minhas
não sei bem dizer de que sabor foram as lágrimas
tinham gosto de raiva como tantas outras
mas havia algo mais nestas
talvez eu esteja me tornando mais sensível e sentimental
algum vestígio de fraqueza
ou talvez de coragem
é coragem, dos que encaram emoções
que as toleram, as suportam
ou ainda algum tipo de masoquismo
dos que aguardam e gostam de um momento meio trágico
para extrair todo veneno que pode se tornar antídoto
extrair força para mudar o que já não se via como certo
extrair poesia
extrair piedade
seria um sinal
ou alguma sina
castigo
ou quem sabe aprovação
não sei o que faço
não sei pra quem faço
não sei se quero
se não quero
sou fraca
ou sou forte por abrir mão
se seria um modo de medir tolerância
o meu gostar
a minha força
os meus desejos
a minha paixão
ah! paixão, pelo que tenho?
por qual paixão eu lutaria, para assim ela ser revelada como tal?
a muito tempo eu não luto nem por mim
e esse não deveria ser o primeiro passo(cliché ou não, importa?)
lutar pelo seu melhor
ser o amigo imaginário
aquele que criamos com todas as qualidades que gostaríamos de despertar em nós
eu necessito de mais paixão
só ela pode transformar
só ela pode não entediar
"relacionamento" é algo hiato,
mas ao mesmo tempo se encontra com a paixão
não falo da paixão dos românticos
acho que tem mais a ver com a paixão dos romances
a paixão por algo, pela ação
não pelo alguém e suas ações
a mesma paixão de um artista ao olhar seu trabalho antingindo formas
a paixão que orgulha
a cheia de si
e no encontro de relacionamento "Quem"
a paixão tem que viver
ela precisa viver em mim
preciso desta para me sentir melhor
poder oferecer algo
eu preciso dela para quebrar armaduras
e me deixar envolver com os variáveis tipos em que ela se encontra