quarta-feira, 7 de novembro de 2012


"a trituração

muito
muito pouco
muito gordo
muito magro
ou ninguém.
gargalhadas ou
lágrimas
odiadores
amantes
estranhos com rostos como
as costas de
percevejos
exércitos correndo por
ruas de sangue
acenando garrafas
baionetando e fodendo
virgens.
ou um cara velho num quarto barato
com uma fotografia da M. Monroe.
há uma solidão tão grande nesse mundo
que você pode vê-la no movimento lento dos
braços de um relógio.
pessoas tão cansadas
mutiladas
ou pelo amor ou por nenhum amor.
as pessoas não são boas umas às outras
num todo.
os ricos não são bons para os ricos
os pobres não são bons para os pobres.
temos medo.
nossos sistema educacional nos diz
que podemos todos ser
vencedores rabudos.
não nos disseram sobre
as sarjetas
ou os suicídios.
ou o terror de uma pessoa
doendo em um lugar
sozinha
intocada
infalada
regando uma planta.
as pessoas não são boas umas às outras.
as pessoas não são boas umas às outras.
as pessoas não são boas umas às outras.
acho que nunca serão.
não as peça para ser.
mas às vezes eu penso sobre
isso.
as contas balançarão
as nuvens enuviarão
e o assassino decapitará a criança
como se mordesse uma casquinha de sorvete.
muito
muito pouco
muito gordo
muito magro
ou ninguém
mais odiadores do que amantes.
as pessoas não são boas umas às outras.
talvez se elas fossem
nossas mortes não seriam tão tristes.
enquanto isso eu olho para as jovenzinhas
impedirem
flor da possibilidade.
tem que haver um jeito.
certamente há um jeito que ainda não
pensamos.
quem botou esse cérebro dentro de mim?
ele chora
ele reclama
ele diz que há uma chance.
ele não diz não. " (Bukowski)

sábado, 2 de junho de 2012

Destino


E já era hora de passar pelos túneis
Abrigados por moribundos
Cansados do dia de amanhã
As suas mãos estão cheias de calos
Nenhum parece ser formado
Pelo destino desenhado em linhas fundas
Ontem eu vi um pássaro negro
Ele cantava para as árvores altas
Daqui parecia um sussurro desesperado
Você se cansou do ontem
E sonha em viver o amanhã
Que nunca chega
Eles sempre te lembram
Dos cacos espalhados pelo chão
E você se refletindo neles
Num tom vermelho
A sua blusa de mangas compridas
Escondem marcas
Que lembram as linhas
Desenhadas nas suas mãos
Eles sempre te lembram
Dos cacos espalhados pelo chão
E você se refletindo neles
Num tom vermelho

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

É que eu preciso que o deus venha




Vida solta
Canto triste
Margaridas no lugar de girassóis
Porta aberta
Vento pouco
Nada que faria o mundo desabar

Foi chegando
Como um raio
Aquecendo tudo ao seu redor
Trouxe canto
Ventania
Bagunçando folhas e lençóis

Eu queria mais que tudo
Ver nos seus olhos o pecado da maçã
E que ardesse como a chama
Que queimava bruxas e pagãos

Guerra armada
Apertada pelos braços de Morfeu
Foi travada a batalha
Quem ganhasse seria o meu Deus

Vida aberta
Vento triste
Girassóis fazendo o mundo desabar
Canto pouco
Porta solta
Bagunçando tudo ao meu redor

Se amaram
Como loucos
Não cabia mais nenhuma dor
Foi tão denso
Como chuva
Que entrava por janelas e portões

Guerra armada
Apertada pelos braços de Morfeu
Foi travada a batalha
Quem ganhasse seria o meu Deus

sábado, 7 de maio de 2011

Se eu mentisse sobre as falas que me disse quando ouvi

Seríamos opostos perdidos entre o mar aberto e os olhos tristes de quem era feliz?
Soubéssemos antes de todo esse fim, fugiríamos loucos, tontos, embriagados por toda verdade exposta em palavras, outrora, veladas pelo perfume da flor. Ou repetiríamos cada gesto duro, palavras amargas, mãos desatadas, agudos tão densos e aquela velha mala marrom restando como símbolo do que já chamamos de amor e agora chamamos de melhor solução para algo que não deu certo. Parecendo que o fim do amor é dar certo.
Preferia antes, sem as molduras, o quadro bastando, sem tantas definições para tudo quanto há.
Sabe, às vezes desaprende-se a andar, vira um só. E o amor é tudo, menos virar um só.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Nova história de um ovo apunhalado



"Olho o ovo na cozinha com atenção superficial para não quebrá-lo. Tomo o maior cuidado de não entendê-lo. Sendo impossível entendê-lo, sei que se eu o entender é porque estou errando."

O ovo e a galinha-Clarice Lispector



Dentro de uma casca - ele repetia, já fazia cinco dias. Quando abria a boca, agora tão seca, murcha, era pra dizer, dentro de uma casca.

Ele antes era muito expansivo, não sei bem se é a palavra certa, mas é a que achei, e com ela quero dizer que ele buscava, nunca estava parado, até na hora de dormir, praticava o sonho consciente, lúcido. E agora estava encolhido, seus olhos que tomavam mais a cada dia um tom de âmbar, refletiam uma rocha e um grito de guerra armada.

Olha, não vou dizer que eu não me assustava quando tinha coragem de encará-lo e sim, eu corria cada vez que aqueles olhos duros me encurralavam, me esmagavam, corria feito uma criança pra debaixo do cobertor. Não queria compreendê-lo, desejava que ele escondesse aquilo de tudo que se derramava cada vez mais fundo nele.

Foi ontem, que já não ouvi mais o seu fio de voz saindo embargado, que parecia um rouco querendo gritar. Senti um alívio imenso, não nego, e demorei um tanto para abrir a porta de seu quarto, não queria perturbá-lo, talvez tivesse chocado. Mas quando o silêncio passou a sussurrar, caminhei lentamente, abri a porta e o vi ali envolto de cacos, tão bonito, limpo, os olhos de vidro, parados e quebradiços. Havia tocado a casca.

Enfim eu poderia voltar a comer ovos.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Eu gosto dos que têm fome
Dos que morrem de vontade
Dos que secam de desejo
Dos que ardem

terça-feira, 19 de outubro de 2010

"Bem de leve prá não perdoar
Eu tô aqui comendo para vomitar
Carinhoso pra poder ferir"