terça-feira, 24 de novembro de 2009

pitadas de Caio F.




Se o outro for bom para você. Se te der vontade de viver. Se o cheiro do suor do outro também for bom. Se todos os cheiros do corpo do outro forem bons. O pé, no fim do dia. A boca, de manhã cedo. Bons, normais, comuns. Coisa de gente. Cheiros íntimos, secretos. Ninguém mais saberia deles se não enfiasse o nariz lá dentro, a língua dentro, bem dentro, no fundo das carnes, no meio dos cheiros. E se tudo isso que você acha nojento for exatamente o que chamam de amor? Quando você chega no mais íntimo. No tão íntimo, mas tão íntimo que de repente a palavra nojo não tem mais sentido. Você também tem cheiros. As pessoas têm cheiros, é natural. Os animais cheiram uns aos outros. No rabo. (…) Se tudo isso, se tocar no outro, se não só tolerar e aceitar a merda do outro, mas não dar importância a ela ou até gostar, porque de repente você pode até gostar, sem que isso seja necessariamente uma perversão, se tudo isso for o que chamam de amor. Amor no sentido de intimidade, de conhecimento muito, muito fundo. Da pobreza e também da nobreza do corpo do outro. Do teu próprio corpo que é igual, talvez tragicamente igual. O amor só acontece quando uma pessoa aceita que também é bicho. Se amor for a coragem de ser bicho. Se amor for a coragem da própria merda.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Desafinado dom de se iludir ou desamores aleatórios

Fui brincar de fazer de você uma extensão de mim. Comecei usando fios tão finos, frágeis, mas coloquei tantos, não consigo me lembrar quando...




Transformei aquilo tudo, em tudo aquilo, em água viva. De repente era parte da chama, que brilhava num tom alaranjado que me lembravam seus cabelos menina. Logo se esgotava. Os momentos claros pareciam dissolver tudo, mas eu me apegava com tamanha fidelidade aos obscuros que me restava ascender um cigarro e tragar, ou nem isso, pedindo para que se demorasse a acabar.

Quando olho pra algum fio arrebentado, outro partido, vejo que criei tanto e como, inventei ruas, avenidas, praças, sons, dizeres que falavam em outros tons, silêncio, silêncio, que enfim me incomodavam por tanto tagalerarem.


Quem poderia imaginar que no fim o vento, seria você ( )



"desligo você
nus, deslizamos
pra que te esquecer
se o amor é tanto?
existo em você
por louco engano"
"Eu já nem sei se eu tô misturando
Eu perco o sono
Lembrando em cada riso teu
Qualquer bandeira
Fechando e abrindo a geladeira
A noite inteira"