quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O meu pão sempre cai com a manteiga pra baixo ou o silêncio de um ruído


É engraçado como Deus(sempre enfiando ele no meio) pode ser uma pessoinha irônica, é só você mandar um "Sabe, tá tudo começando a dar certo" pra ele te mostrar que não é assim, e não adianta ficar puto, ele escorre isso sobre margens que você não consegue alcançar, e o jeito é catar aquilo tudo e olhar nos olhos, se for pra se sentir triste, sentir em cada pedacinho do corpo, por inteiro. Vai vire cinzas, pra poder se renovar (acho que Nietzsche disse algo assim).

Então me quebro, me desfaço, o ponto que iluminava se apagou de uma vez, enquanto eu pisava em campos vastos e sim, pareciam brandos, agora tudo o que sinto é o cheiro da flor se esvaziando e até agradeço por não enxergar nada.

Murmuro desculpas pra mim mesma, e é claro tento me acabar de vez e cortar a fitinha do Bonfim.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009



Ando nas mesmas ruas, com os mesmos passos. É, talvez mais miúdos, mais pesados, mais embriagados, mais lentos.
Ando com as mesmas meias, aquelas coloridas que se desfaziam num tom azul que se distribuía com toda subtileza.
Nem parece que ando somente a três horas, parecem tantos dias, tantos calos, que você não entenderia.
Ando armada de fantasias, viro o mundo, passo a onda, flutuo sobre mim.
Canto em decassílabos, escrevo em tons agudos, escorre sobre a lama.
E parece que sempre foi assim, e isso me escapa, transfigura. E permaneço.

café, cigarros e uma pitada de blues

Nunca gostei de café muito amargo, ele parecia me cansar mais, o líquido acabava o gosto continuava permanente. Aquele gosto de depois queimando a língua.


Nunca gostei de pessoas muito amargas, elas me transbordam, me gastam, deixam aquele gosto mordaz, aquela falta de simplicidade, meus olhos quase se fecham.

Meu café sempre foi meio chafé e você pode imaginar como.

Meus cigarros sempre foram picados, comprar um maço define por demais.

Meu blues, esse muda constantemente, sinto com ele, me respaldo, me crio. Minha depressão sempre foi crônica e a minha esperança tem tons acinzentados, esperando pelo próximo chafé, a próxima tragada, a próxima paixão. E os olhares cansei de sustentar.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Ando muito completo de vazios.
Meu órgão de morrer me predomina.
Estou sem eternidades.
Não posso mais saber quando amanheço ontem.
Está rengo de mim o amanhecer.
Ouço o tamanho oblíquo de uma folha.
Atrás do ocaso fervem os insetos.
Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu destino.
Essas coisas me mudam para cisco.
A minha independência tem algemas.
(...)

Nuvens me cruzam de arribação.
Tenho uma dor de concha extraviada.
Uma dor de pedaços que não voltam.
Eu sou muitas pessoas destroçadas.
(...)

(ele) é quase árvore.
Silêncio dele é tão alto que os passarinhos ouvem de longe
E vêm pousar em seu ombro.
Seu olho renova as tardes.
(...)

(... consegue esticar o horizonte usando 3 fios de teias de aranha. A coisa fica bem esticada.)... desregula a natureza: Seu olho aumenta o poente.
(Pode um homem enriquecer a natureza com a sua incompletude?).
(...)

Estou atravessando um período de árvore.

Manoel de Barros

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

não me mandem flores

é óbvio que ele procurava um amor, mas eu nunca serei um pra ninguém. sabe eu me canso, não sei nem bem do que, eu estou cansada antes mesmo de começar algo, tipo fico aqui pensando como vai ser e vou achando tão rotina, tão chacina.
pra complicar eu sempre busquei, pelo menos penso assim, um grande amor, e sempre to fugindo dele, me autosabotando, estranhamente eu deslizo sobre mim. enquanto eu escrevo meu coração vai ficando apertado. é, de novo estou passando por isso, pensando estar apaixonada, ou criando uma só pra me sentir mais viva, ai fico medindo maneiras de agir, entro em um jogo doloroso. meu problema sempre foi pensar demais, ou de menos, é passado e futuro, nunca, nunca presente, e eu me canso e me aborto, a torto e a direito.